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Poemarte

Poemarte

20
Mar18

Pai

Susana

PAI

*

Na tua casa havia uma aldeia
onde sempre foste todos os habitantes.
O ar vinha cantando dos campos da lua,
entrava em festa pelas frestas, pelas ruas,
doirando até à pele. Com ele chegava o aroma
do alecrim e da resina, da primeira lã dos cordeiros.
Tomaste para ti um nome que era todos os nomes,
aquele que pode mover todas as coisas, que pode ser
todas as coisas, o que todas as coisas comentam e festejam.
O nome dos pastores e dos lumes. Nome de reis
e artesãos. De escribas. E das crias
dos cães que povoavam os desertos.
Em todas as casas havia o teu nome
numa aldeia. Onde todos os habitantes
foram sempre tu. E onde a lua vinha cantando
dos campos, quando a festa do ar entrava
pelas frestas da pele com o aroma dos cordeiros.
Doiraste o alecrim e a resina. E tomaste
todas as coisas no teu nome. O nome
que todos os nomes comentam e festejam.
Em nome do nome de crias e pastores.
Em nome do nome de reis e artesãos.
Em nome dos lumes e dos cães. E em nome
dos escribas que povoam os desertos.

*

© Joaquim Pessoa, In NOMES.

Arte © Heidi Mallot

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